quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Financiamento do Movimento Estudantil

Em 2001, o então Ministro da Educação Paulo Renato disputava internamente para ser o candidato presidencial tucano. Era o candidato favorito do Presidente Fernando Henrique Cardoso, mas tinha um problema sério, era duramente criticado pela União Nacional dos Estudantes. Paulo Renato aproveitou pela solução fácil, em vez de dialogar com a UNE e buscar atender reivindicações estudantis, preferiu usar o poder do Governo Federal para esmagar sua adversária. O ataque foi certeiro: através de uma Medida Provisória modificou as regras de emissão das carteiras de identificação estudantil, principal fonte de rendada UNE. O resultado não foi bem o esperado, já que, mesmo sem receita, a UNE continuou atuante e fazendo oposição a Paulo Renato, que perdeu a indicação para candidato.

Apesar de não ter atingido a UNE em si, a MP das carteirinhas (2208/01) alterou de forma incisiva a correlação de forças dentro do Movimento Estudantil. Isso porque, em vez de quebrar a UNE, a MP 2208/01 quebrou os Centros Acadêmicos (CAs, entidades que representam apenas os estudantes de uma faculdade ou curso).

O Movimento Estudantil, como qualquer espaço político, é liderado pelas forças ideológicas que atuam de maneira organizada, mas também é composto por uma enorme massa de pessoas não organizadas sem que deixem de participar por conta disso. Imagine, por exemplo, um Congresso da UNE: um mega-evento com a participação de 10 mil estudantes de todo o Brasil. Dentre os delegados com direito a voto (eleitos pelos colegas nas suas universidades), uma parte tem ligações diretas com as forças políticas, mas a grande maioria não tem e foi simplesmente participar das atividades.

Desde 1991, a força política com mais influência no Movimento Estudantil é a União da Juventude Socialista (UJS), organização fundada em 1984 por Aldo Rebelo e outras lideranças estudantis e juvenis. As demais forças de oposição da UNE, menores do que a UJS, baseavam sua estratégia para vencer buscando o voto dos estudantes independentes, num processo lento e gradual de convencimento que, particularmente, nunca funcionou, afinal a UJS nunca perdeu deles. Mesmo falho, esse movimento da oposição lhes dava grande força. A espinha dorsal da estratégia da oposição eram os Centros Acadêmicos independentes, pois apesar de não terem ligação com as forças, eram minimamente organizados e tinham mais chance de influenciar do que meros estudantes individualmente. Por conta disso, as forças de oposição da UNE se concentraram em dirigir as Executivas e Federações de Curso, visando um dia acumular forças e derrotar a UJS. Se esse plano ia dar certo, nunca saberemos, pois com a MP do Paulo Renato a ampla maioria dos Centros Acadêmicos deixou de existir. Diferente da UNE, que tem condições de se manter mesmo sem dinheiro (na Ditadura a UNE sobrevivia sem dinheiro e sendo perseguida pela polícia, oras!), os CAs são estruturas frágeis que precisam de alguma fonte mínima de recursos.

Moral da história, sem financiamento o Movimento Estudantil se enfraqueceu muito, já que os CAs faziam lutas concretas e a UNE tinha muito mais estrutura para fazer as reivindicações estudantis. Por outro lado, o objetivo de Paulo Renato, que era acabar com a liderança da UJS, teve efeito contrário, pois ajudou a fortalecer sua posição. Atualmente, a ampla maioria dos Centros Acadêmicos que ainda sobrevivem, são dirigidos pela UJS.

A UJS, apesar de beneficiada na disputa interna do Movimento Estudantil, mantém uma posição coerente com relação ao financiamento e defende mudança na MP das carteirinhas. Afinal, prefere um Movimento Estudantil forte e atuante, mesmo com mais oposição.

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De São Paulo-SP.

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