quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Oportunidade única

A hegemonia do PSDB em São Paulo é baseada em dois conservadorismos. No interior, Geraldo Alckmin assumiu o voto pragmático que era de Quércia e, na capital, José Serra herdou os votos conservadores que anteriormente eram de Maluf. Vencer os tucanos só é possível caso um novo elemento seja inserido no cenário.

O novo elemento é Gilberto Kassab (DEMo, por enquanto), o atual prefeito da Capital. Kassab foi um apagado Deputado Federal e Secretário de Planejamento do finado ex-Prefeito Celso Pitta. Escolhido para ser vice-prefeito por José Serra, Kassab caiu sem muitos méritos na cadeira do Prefeito. E lá ficou, inclusive derrotando Marta Suplicy (PT) e Geraldo Alckmin em 2008.

Kassab já é prefeito reeleito, ou seja, não pode se manter no cargo. Moto continuo, quer ser candidato ao Governo do Estado. Kassab é um homem de Serra, mas o atual governador é Alckmin. Ocorre que o PSDB está em luta interna e o derrotado Serra quer manter o poder e o vitorioso Alckmin quer assumir. Alckmin NUNCA deixaria um cupincha de Serra como seu sucessor. E por isso, Kassab está de malas prontas para o PMDB.

Para ser governador, Kassab tem que derrotar Alckmin ou o candidato por ele indicado. Para impedir esta ascensão, o atual governador tem que derrotar o candidato de Kassab nas eleições municipais. Aí que entra o “Centrão”.

O “Centrão” é um aglomerado de vereadores conservadores e fisiológicos que se organizaram na Câmara Municipal de São Paulo para dominar os trabalhos legislativos. O prefeito Kassab ficou refém deles, mas como também é conservador, preferiu apoiar em vez de enfrentar.

Ocorre que a ida de Kassab para o PMDB muda a correlação de forças na política paulistana. O prefeito ganha aliados fora do “Centrão” e tem condições de derrota-lo. É uma demonstração essencial de poder de quem pretende eleger seu sucessor.

E por que o PT apoia o “Centrão”? Porque o Partido dos Trabalhadores tem uma boa relação com o “Centrão”, que foi uma maneira dissimulada de aderirem ao governo (afinal, o “Centrão” era governista antes de Kassab declarar guerra). Os vereadores petistas não podem aderir abertamente ao governo, uma vez que vão lançar candidato contra nas eleições de 2012. Mas também não tem interesse em ficar fazendo oposição na Câmara, pois o trator Kassab-“Centrão” era muito forte. Na disputa entre Kassab e o “Centrão”, o PT optou pelo “Centrão”, pois mantém o jogo mais ou menos como está.

Trata-se de uma opção errada do PT. Manter o jogo como está significa manter a Direita unida e invencível. O despontamento de uma nova liderança de Direita significa a divisão do bloco conservador. Trata-se do elemento novo, a única chance de uma vitória progressista em São Paulo (seja na Capital, seja no Estado). A vitória do vereador José Pólice Neto (PSDB) para presidente da Câmara Municipal é uma vitória de Kassab sobre o “Centrão”, ou seja, mais um passo em sua jornada para o Palácio dos Bandeirantes em 2014. Lá está a verdadeira disputa!

Independente de quem ganhe em 2014, trata-se de uma divisão no bloco conservador. Isso por si só já é uma vantagem para a Esquerda. E vale lembrar que, enquanto Geraldo Alckmin se move cada vez mais para a Direita, Kassab dá uma guinada ao Centro ingressando no PMDB. Entre Alckmin e Kassab, viva Kassab!

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De São Paulo-SP.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mini-debate sobre o Wikileaks

A Wikileaks é um perigo, pois seu dirigente é totalmente independente, não responde a qualquer autoridade e decide, a seu bel prazer, quais informações divulgar[1]. As informações divulgadas pelo Wikileaks são uma invasão da privacidade de seus autores e podem ter sido adquiridas por meios ilegais, inclusive através de espionagem[2]. Algumas das informações divulgadas pela Wikileaks são gravíssimas e podem colocar vidas em risco[3]. Além disso, o controverso Julian Assange é acusado de estupro na Suécia [4].


[1] De fato. Inclusive, o mesmo pode ser atribuído a qualquer órgão da imprensa. Os jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e os portais de internet são totalmente independentes, e decidem individualmente quais informações devem ser divulgadas e quais devem ser “abafadas”.

[2] Novamente a similaridade com a imprensa é presente. A mídia não vê qualquer problema em escancarar a intimidade das pessoas públicas, sejam artistas ou governantes. E muitas vezes adquirem sus informações de maneira ilegal. A propósito, a única espionagem confirmada no escândalo da Wikileaks foi a perpetrada pelo governo dos Estados Unidos contra funcionários da ONU (incluindo seu Secretário-Geral) e do Irã.

[3] Em primeiro lugar, o mais grave é que alguém tenha vazado essas informações que coloquem em risco a vida de pessoal (o governo dos EUA já fez isso propositalmente no caso de Valerie Plame, ex-agente da CIA cuja identidade foi revelada durante a administração George W. Bush). Os vazadores devem ser identificados e punidos antes de haver qualquer gritaria em torno do Wikileaks. Em segundo lugar, tais informações que colocam em risco a vida de pessoas, bem como as que violam sua intimidade devem ser avaliadas sob o prisma do interesse público, podendo inclusive ser um legitimo limitador para a liberdade de expressão. Afinal, a liberdade de uns não pode violar a vida de outros. Em terceiro lugar, as informações divulgadas pela Wikileaks são, em geral, telegramas indiscretos que causam, no máximo, um pequeno mal estar diplomático entre os EUA e algumas nações que se consideram suas aliadas.

[4] É, no mínimo, suspeito que as acusações contra Julian Assange sejam desarquivadas logo após a polêmica explodir. Muito mais suspeito é o fato de praticamente toda a mídia no Brasil, EUA e Europa ignorar o fato de que a acusação do processo criminal em questão é por ter feito sexo sem proteção, que na Suécia é considerado uma modalidade de estupro. A mídia não divulgou esta informação, nem mesmo como boato ou para desmenti-la. Quer dizer, que absurdo que os donos dos jornais decidam a seu bel prazer, sem consultar nem responder a ninguém, qual informação divulgar e qual “abafar”!


Julian Assange é uma figura controversa. Provavelmente um maluco. O Wikileaks é um perigo e deve ter seus limites. Assim como a imprensa o deve. Estes limites são o interesse público, mas devem ser muito bem delimitados, para não possibilitar abusos por parte dos Governos contra as informações que o desagradem. Afinal, a ausência da Liberdade de Expressão é um perigo muito maior do que a Wikileaks ou qualquer órgão da imprensa. A propósito, a pressão dos EUA para retirar o servidor do Wikileaks e impedir doações por cartões de crédito é comparável às atitudes de controle exercidas pela China sobre a internet, mas ao menos o Governo Chinês é honesto em dizer que considera a internet perigosa, diferente dos EUA que se apresentam como o último bastião da liberdade.

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De São Paulo-SP.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Não confiem em banqueiros!

A constitucionalidade do cadastro positivo é bastante duvidosa, e seu resultado prático mais ainda! A ideia é um SPC/SERASA ao contrário, em vez de listar os maus pagadores, listaria os bons, conforme suas compras à prazo. Tecnicamente, os bons pagadores são os que não constam nos sistemas já existentes de maus pagadores e diferenciá-los conforme seus hábitos de consumo seria uma clara violação ao princípio da igualdade.

O efeito prático do cadastro positivo também é bastante injusto, uma vez que se objetivo é baixar os juros dos bons pagadores (constantes do cadastro). Ora, se os juros abaixarão para uns, deverão ser aumentados para outros. E quem serão estes outros? Serão os bons pagadores que não constam no cadastro positivo (uma vez que os maus pagadores, que constam do cadastro negativo, não tem direito algum à crédito). Resumindo, os bancos estarão legitimados a AUMENTAR os juros pelo cadastro positivo...

Outra questão fundamental é que, no Brasil, o lucro dos bancos bate recordes todos os anos, ou seja, não há risco algum para as entidades que atuam neste setor da economia que justifique a criação de mais uma salvaguarda.

Diga-se de passagem, a queda na inadimplência do cartão de crédito nunca foi compensada por reduções nas taxas de juros, confirmando apenas que os banqueiros não se sentem e nunca se sentirão compelidos a cumprir qualquer redução de juros pela simples criação do cadastro positivo.

A Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) já anunciou que, antes de decorrido um ano, o cadastro não terá efeito. Se é que, depois deste período, terá efeitos positivos, pois os negativos são visíveis.

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De São Paulo-SP.