quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Uma breve história da Democracia Puquiana


Por Marcio TAQUARAL

A PUC-SP sempre foi uma das universidades mais democráticas do mundo, principalmente por causa da participação de todos os setores (professores, funcionários e estudantes) nos seus vários conselhos dirigentes.

Durante a Ditadura, a PUC-SP se tornou o refúgio dos professores cassados e proibidos de lecionar nas universidades públicas e logo se consolidou como um bastião do livre pensamento e de resistência ao arbítrio. Devido a isso, foi tão simbólica a invasão de 1977, liderada pelo facínora Cel. Erasmo Dias, para tentar impedir uma atividade da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Em 1980, o venerável Arcebispo de São Paulo, Don Paulo de Evaristo Arns, em um ato de contestação frontal à Ditadura, juntamente com a saudosa reitora Nadyr Kfoury, organizou a primeira eleição direta para a reitoria. Além de direta, a eleição era paritária, com voto equilibrado entre os três setores.

Ainda nos anos 80 houve a reforma do Estatuto da PUC-SP, com ampla participação da comunidade. Infelizmente, parte do movimento estudantil boicotou o processo e por conta disso a participação discente ficou reduzida nos conselhos universitários.

Mas nem tudo foram flores neste caminho. No começo dos anos 90, um movimento conservador da Igreja Católica retirou as liberdades das universidades pontifícias em todo o mundo. Tais ventos conservadores também atingiram a PUC-SP, com a nomeação de um interventor (Vicente Bezinelli). A reitora da época, Leila Bárbara, foi fraca e se submeteu. Porém, um grande movimento de professores e estudantes (e uma grande greve) conseguiu derrotar a intervenção.

O fantasma da intervenção retornou em 2005/2006, quando Don Cláudio Hummes nomeou o Padre Rodolpho para o cargo de Secretário-Geral da Fundação São Paulo (mantenedora da PUC-SP), cargo tradicionalmente ocupado pelo reitor. Uma rápida mobilização de apoio à reitora Maura Véras conseguiu segurar temporariamente a intervenção. Infelizmente a reitoria aceitou executar o plano de demissões imposto pela Igreja, com isso Maura perdeu apoio de amplos setores da universidade. Apesar da submissão da reitora, a Igreja achou o pacote de demissões muito tímido e exigiu uma reformulação total da universidade.

O Conselho Universitário aceitou a reformulação, desde que fosse através de um processo de debate democrático com a comunidade: era o Redesenho Institucional. Três propostas de estatuto foram elaboradas pela comunidade, todas democráticas, porém novamente houve boicote de um equivocado setor do movimento estudantil. A Igreja não ficou satisfeita com as propostas de estatuto democrático e impôs um estatuto autoritário. Enfraquecida, a reitora não quis resistir e o CONSUN, covardemente, aprovou o estatuto da Igreja, ignorando todo o processo democrático recém-ocorrido. Era a derrota do Redesenho Institucional.

O novo estatuto formalizava a intervenção, criando o CONSAD, órgão que passava a controlar financeiramente a PUC, sendo composto por dois padres e pelo reitor. O primeiro reitor eleito após a aprovação do novo estatuto foi o prof. Dirceu de Mello. Há quem diga que na ocasião o Arcebispo Don Odílio Scherer tentou nomear a segunda colocada na eleição, mas que a mesma recusou-se a assumir o cargo tendo perdido a eleição.

Em 2012, novamente a Igreja tenta solapar a Democracia Puquiana ao nomear a última colocada na eleição para reitoria. Esperamos que o atual Reitor, Dirceu de Mello, que foi legitimamente reeleito, tenha mais coragem que alguns de seus antecessores, faça jus ao apoio que tem recebido e resista!

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De São Paulo-SP.