sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Opiniões para um debate sério


Opinião é opinião e cada um tem direito à sua. Tem gente que prefere bolo de fubá, apesar de ser óbvio que o de chocolate é muito mais gostoso. Opiniões...

 

Com todo respeito às opiniões divergentes, quando se trata de debate político sério, só levo em consideração uma opinião que seja embasada. Um sujeito pode preferir o FHC, porque na opinião dele, foi o presidente mais simpático, mas, se ele disser que prefere o FHC porque foi o melhor presidente, então tem que embasar sua opinião.

 

Uma opinião embasada parte do pressuposto de que existem critérios: algo como “o Lula é o melhor presidente porque cuidou dos pobres” ou “o Lula foi o melhor presidente porque cuidou melhor da economia”, sei lá. A partir dos critérios surge o primeiro embate: se eu discordar do critério que você citou (por exemplo, que o melhor presidente é o que cuida bem da economia), então nossa discussão política tem que ser interrompida e elevada a outro nível: passamos a debater os critérios, o que pode ser altamente filosófico e não chegar à conclusão alguma (afinal, o critério do eleitor do Pastor Feliciano dificilmente será compatível com o do eleitor do Jean Wyllys). Talvez o debate filosófico de critérios não chegue à conclusão alguma, mas pelo menos o nível do debate foi elevado.

 

O problema é que ninguém é honesto na hora de estabelecer os critérios. Basta assistir o programa eleitoral e ver como todos os candidatos falam da mesma coisa, sendo que o vereador que sempre vota pela redução das verbas do transporte público se candidata prometendo mais transporte público, e o senador corrupto não fica vermelho ao bradar contra a corrupção. Com eleitores acontece a mesma coisa, pensam em uma coisa, mas dizem outra...

 

Se for possível chegar a um entendimento sobre o critério (por exemplo, “o melhor governante é o que investe em saúde e educação”), então a discussão política é retomada, mas com outro enfoque: critérios verdadeiros tem que ser passíveis de análise e comprovação fática. Existem números, estudos e pesquisas que podem demonstrar se o critério foi atingido ou não. Mas, para isso, é necessária uma análise neutra. A partir do momento que os critérios foram estabelecidos, ou os números encaixam ou não encaixam (não é razoável achar que as pedaladas da Dilma são ilegais e que as pedaladas do FHC e do Lula eram legais, ou que o mensalão tucano em menos grave que o do PT), e com isso se atinge uma conclusão.

 

Com relação a isso, o problema é que os debatedores invertem o raciocínio e selecionam os fatos antes dos critérios: preferem os números bons de seus políticos e a partir deles estabelecem os critérios. Oras, neste caso, o critério sempre vai indicar o político escolhido, e não o contrário, ou seja, o debatedor está fazendo campanha eleitoral em vez de análise política. Isso até pode valer no futebol para justificar porque seu time do coração é o melhor, mas não vai fazer com que ele ganhe o campeonato.

 

Em suma, se o debate for sério, pode me chamar para participar (com critérios, fatos, números, análises etc). Mas, se o amigo vai ficar em discussões retóricas sem conteúdo, então me restrinjo apenas a frases de efeito do tipo “as elites não gostam do povo”, “os eleitores do Aécio estão chateados porque tem pobre andando de avião” ou “nunca antes na história deste país”.

De São Paulo.