terça-feira, 22 de novembro de 2011

Memória Curta


Por Marcio TAQUARAL

O velho barbudo (o tal do Karl Marx) evidenciou o caráter cíclico das crises econômicas do Capitalismo. Os velhos economistas não conseguiram contestar Marx, então optaram por abandonar a Economia Clássica e inventar novas modalidades de tratar do tema. O problema é que, mesmo ignorando o problema, ele continua existindo.


Eis que em 1929, a superprodução de bens não encontrou consumidores (os trabalhadores daquela montanha de bens recebia salários de fome e não podia comprar) e a Bolsa de Nova York quebrou. Eram tempos de liberalismo (“laissez faire, laissez aller, laissez passer”) e o Estado ficou um pouco constrangido a intervir na confusão criada pela “mão livre do mercado”... Mesmo assim, timidamente ajudou. Uma série de programas sociais (parecidos com o Bolsa Família) alavancaram a economia norte-americana. É o chamado socialismo das perdas: quando o capitalismo vai bem, ninguém divide o lucro, mas quando vai mal, o prejuízo fica com o Estado (ou seja, o prejuízo é suportado igualmente por toda a sociedade).


Ocorre que a voracidade dos capitalistas é maior que sua memória: assim que se sentiram seguros, voltaram a bradar contra o “intervencionismo” estatal. Em 1933, o Governo Roosevelt suspendeu as medidas econômicas e os Estados Unidos entraram de novo em crise (por isso se chama crise em W, porque tem dois vales).


Em 2008 a história se repetiu. A falta de regulação do mercado financeiro abriu um desfiladeiro entre os produtos ofertados e a capacidade de pagamento. Novamente o estopim foi nos Estados Unidos (sempre onde o capitalismo está mais avançado) e se espalhou pelo mundo.


Aparentemente, as potências tinham aprendido a lição e rapidamente os governos buscaram salvar suas economias com ajuda do Estado (a “socialização das perdas”). Nos Estados Unidos, o governo Democrata (neoliberais progressistas) luta contra a oposição Republicana (neoliberais conservadores) para manter a atuação do Estado. Em agosto, por pouco o Congresso não vetou o aumento da dívida pública, o que acabaria com todas as medidas intervencionistas, resultando em uma crise parecida com a de 1933 (que na verdade, é a continuação da crise de 29).


Na Europa, a memória continua curta. Nem bem os bancos se salvaram (a “estatização” das dívidas) e os neoliberais já voltaram a bradar contra o Estado. Pede-se ajuste fiscal na Grécia com tanta veemência que alguns até esquecem que a crise foi causada pelo sistema financeiro e foi estancada pela atuação estatal, ou seja, quanto menos Estado, mais chance de um novo ciclo de crise (que já é sentido no mundo inteiro).


Para concluir, voltamos ao velho Marx que, parafraseando Hegel, lembra que a História sempre se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa. E lá vamos nós para a crise em W!


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De São Paulo-SP.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Seminário - “O legado de megaeventos esportivos para a juventude brasileira: perspectivas em debate”


O Seminário interdisciplinar objetiva debater e propor ações relacionadas aos legados sociais que os megaeventos esportivos – Copa do Mundo 2014 e Rio 2016 – deixarão e quais podem ser seus impactos positivos e negativos para os jovens entre 15 e 29 anos.

O país vive um momento especial de um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social. É preciso gerar oportunidades para que os 50 milhões de jovens de 15 a 29 anos possam aumentar o capital cultural e ajudar o desafio do desenvolvimento sustentado. O acesso ao conhecimento e à educação são estratégias para preparar os jovens para o mundo do trabalho, garantindo a inserção e a transição escolauniversidade-mundo do trabalho, bem como a inserção dos jovens nas novas áreas de conhecimento e da produção que podem surgir em função da preparação do País para receber os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo. Este desenvolvimento apresenta-se também como um estímulo a oportunidades para que os jovens possam ingressar nas práticas esportivas em suas amplas dimensões, como o esporte educacional, de lazer e de alto rendimento.

Não só as cidades que sediarão os eventos têm passado por transformações e adaptações. Dezenas de outras cidades têm sentido tais reflexos. Cidades que abrigam aeroportos, centros de treinamento, estádios de futebol, bons hotéis e boas estradas também têm figurado entre as cidades que estão passando por mudanças.

O Cemj – Centro de Estudos e Memória da Juventude – e seus parceiros têm estimulado o debate sobre este tema para discutir quais novas possibilidades e oportunidades os megaeventos podem abrir para a juventude brasileira.

Dia 20 e 21/11 no Museu do Futebol 
Auditório Armando Nogueira - Museu do Futebol - Praça Charles Miller, s/n° - Pacaembu
Programação:

Dia 21-Segunda
19h00 Conferência de abertura
Dia 22-Terça
09h30 A transformação das cidades
11h30 A educação para a juventude
14h00 Inserção social, treinamento
e emprego.
16h30 O Legado para o esporte

Clique aqui e Veja a Programação detalhada




Contatos: CEMJ - Centro de Estudos e Memória da Juventude
Rua Treze de Maio, nº 1016. Cj.02.
Cep:01327-000, Bela Vista, São Paulo, SP
Fone:             11 3171-1422      
Coordenação do Projeto:
Alexandre Machado Rosa
            11 86572544      

Promoção: CEMJ - Centro de Estudos e Memória da Juventude – www.cemj.org.br
Apoio: Ministério do Esporte, Câmara Municipal de São Paulo.

sábado, 19 de novembro de 2011

Legado que a COPA e as Olimpíadas deixarão para a juventude é tema de seminário


Nos dias 21 e 22 de novembro acontece no museu do futebol a partir das 19h o seminário “o legado de megaeventos esportivos para a juventude brasileira: perspectivas em debate” que visa debater a transformação das cidades e o papel da juventude nesse contexto, os megaeventos e a herança de educação para a juventude, além de inserção social, treinamento e emprego para os jovens brasileiros.
O seminário realizado pelo CEMJ (Centro de Estudos e Memória da Juventude) é decorrente de três edições de fóruns que debateram o legado deixado pela Copa e como a juventude deve se preparar para a realização desses megaeventos esportivos que serão realizados no Brasil em 2014 e 2016. Segundo o presidente do CEMJ, Euzébio Jorge Silveira, “essa é uma questão fundamental, pois não podemos encarar esses eventos apenas como um período de diversão, mas também de apropriação de uma herança que deixarão para juventude, afinal, a base dessa estrutura vem de uma relação construída com políticas públicas baseadas no desenvolvimento do país”. 

No primeiro dia será realizada a conferência de abertura com presença de um técnico do ministério do esporte. Os debates ocorrem no segundo dia a partir das 9h, a primeira mesa propõe o tema “transformação das cidades e a juventude” que objetiva analisar os impactos que as cidades estarão sujeitas por conta da Copa de 2014 e as olimpíadas em 2016, a proposta se baseia em como a juventude pode apropriar-se desse processo de intervenções.  


Serão mais três mesas discutindo a ampliação do acesso de jovens de 15 a 24 anos à educação diante da estrutura proporcionada pelos megaeventos, a criação de empregos e as expectativas no âmbito social com a realização da COPA e das Olimpíadas e o desenvolvimento do esporte como instrumento socioeducacional. 

O Seminário é aberto a todos os interessados em participar e é uma grande oportunidade para compreensão e debate sobre o tema que vem ocupando a atenção do poder público em todas as esferas – federal, estadual e municipal.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Que seja contra a corrupção, mas não contra a Democracia


Marcio TAQUARAL

A princípio, qualquer movimento contra a corrupção é louvável. Sendo a corrupção um mal da sociedade, seu combate é um bem. Mas quem promove o movimento e por que?

Trata-se de um movimento apartidário e que hostiliza os partidos políticos, pois os associa com a corrupção (não sem alguma razão), ou seja, é um movimento anti-partidário. Ocorre que os partidos políticos são essenciais ao regime democrático. Sem partidos, existem apenas duas formas de governar, através da Democracia direta ou através da tecnocracia (que é um regime autoritário).

Até o momento, o tal “movimento contra a corrupção” não esboçou qualquer proposta no sentido de Democracia direta, apesar de ter vociferado bastante contra os partidos políticos. Além disso, seu discurso lembra muito o finado movimento “Cansei” e as “marchas com deus pela família” em 64...

A bandeira de combate à corrupção é válida, mas é melhor uma democracia corrupta do que uma tecnocracia honesta (até porque as ditaduras são os regimes mais corruptos de todos).

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De São Paulo-SP.

sábado, 5 de novembro de 2011

Considerações sobre a Ocupação da Reitoria da USP:


Por Marcio TAQUARAL

1 – Universidade não é local para o consumo de drogas. Essa liberdade individual deveria ser exercida na própria casa do usuário, em frente ao pai e a mãe dele.

2 – Prender os consumidores de maconha é a maneira mais burra que existe para tratar o problema das drogas.

3 – O consumo de drogas não é a causa da violência na USP, ou seja, a Polícia Militar está perdendo seu tempo prendendo estudantes em vez de fazer rondas ostensivas e coibir crimes mais graves.

4 – A USP é um lugar violento, pois faz parte de uma cidade violenta. Precisa de policiamento, mas seria melhor se tivesse uma Guarda Universitária com efetivo real e treinamento especializado.

5 – O Movimento Estudantil está correto quando questiona o convênio da USP com a PM. A Polícia Militar não tem preparo para coibir crimes, apenas para reagir a eles. O ideal mesmo era a extinção da PM.

6 – Ao prender três “perigosos” estudantes que fumavam maconha, a PM mostrou a que veio. Escancarou que sua presença não tem nada a ver com a proteção dos estudantes, mas que é um instrumento de repressão das liberdades universitárias.

7 – Ao ocupar o prédio da administração da FFLCH, meia dúzia de malucos conseguiu reverter a opinião pública. Se antes todo mundo estava a favor dos estudantes contra a PM, depois da ocupação a maioria da população paulistana ficou a favor da presença da PM. (muito provavelmente a ocupação do prédio não tem relação de causa e consequência com a atuação da PM, foi apenas uma desculpa.)

8 – Em geral, a Assembleia é um instrumento de manipulação do Movimento Estudantil. Os organizadores mudam a pauta a seu bel prazer (e depois invertem tudo novamente), dão a palavra apenas a seus amigos e seguram a votação até o horário em que nenhum estudante real esteja mais presente. Resultado: apenas os militantes votam, em decisões que, em grande parte, não reflete a opinião do conjunto discente.

9 – Se, diante de toda a manipulação, a Assembleia votou pela desocupação do prédio da administração da FFLCH, provavelmente essa opinião era desproporcionalmente majoritária. Ao ignorar tal decisão e ocupar a Reitoria da USP, os pequenos grupos supostamente de Esquerda estão tirando suas máscaras democráticas e assumindo que não dão à mínima para a opinião da maioria. Ligam apenas para a própria.

10 – Pelos erros de alguns idiotas malucos, que querem apenas brincar de Revolução, o Reitor da USP, João Grandino Rodas (um notório fascista), conseguiu mais apoio do que nunca e vai conseguir manter o convênio com a PM.

CONCLUSÃO: quem perde nessa história são o Movimento Estudantil e a USP. A ação inconsequente de alguns playboys radicalizados coloca em cheque toda a atuação de um movimento muito mais amplo. História parecida foi vista na Itália e na Alemanha dos anos 70, quando as Brigadas Vermelhas e o Baader Meinholf bloquearam o avanço eleitoral da Esquerda e deram legitimidade para o recrudescimento da Direita.

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De São Paulo-SP.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Custo da Universalização

Por Marcio TAQUARAL



“Um país não pode ser levado a sério se não tiver ao menos sua própria cerveja e uma companhia aérea; ajuda se tiver um bom time de futebol e algumas armas nucleares, mas o mais importante é ter a própria cerveja” - Frank Zappa

Discordamos respeitosamente do roqueiro Frank Zappa. Em nossa opinião, só pode ser considerado sério um País que ofereça Saúde e Educação universal para sua população. Ou que pelo menos tente.

E esse é o caso do Brasil. Por pior que seja a qualidade, o nosso País busca oferecer Saúde e Educação para todos os seus cidadãos. Se um dia os dirigentes políticos tiverem vergonha na cara, vão cumprir a Constituição e fazer os investimentos necessários.

Não há campanha eleitoral em que os principais candidatos competitivos (e 100% dos candidatos eleitos) digam que a Educação e a Saúde serão as prioridades. Só falta cumprir...

Sempre se diz que no passado a Educação era boa (quem não tem um parente que estufa o peito para dizer que estudou em escola pública?). Ocorre que essa excelente Educação era direito de poucos, pois as vagas eram restritas (mais ou menos o que ocorre com as universidades públicas). Eis que veio a universalização, com a ampliação do acesso ao sistema educacional. Mas como ele também surgem problemas, afinal, alunos que antes estariam fora do sistema por deficiências de aprendizado, hoje querem continuar estudando. Estudantes mal-alimentados, sem livros em casa e, às vezes sem casa, ingressaram na escola. O tratamento a eles deve ser diferente (não no sentido discriminatório, mas para incluí-los). Diante de tantas situações novas, o sistema educacional precisa se adaptar, e para isso é necessário investimento financeiro, pedagógico e pessoal.

Na Saúde, desde 1988, o Brasil tem um sistema universal, o mal-afamado SUS (Sistema Único de Saúde). Trata-se de uma má-fama injusta. Antes do SUS, cada categoria profissional urbana tinha seu próprio sistema de saúde. Se o sistema da sua categoria fosse bom, sorte sua. Se fosse ruim, azar o seu. O sistema não era universal, ou seja, você não teria direito a ser atendido em outros estados. Além disso, esses sistemas só valiam para os trabalhadores urbanos, o que deixava a maior parte da população Brasileira sem acesso á saúde. Detalhe, estamos falando da saúde pública!

Com o advento do SUS, a saúde passou a ser realmente um direito de todos. E um dever de todos os entes federativos. Talvez seja esse o problema, quando muita gente é responsável, ninguém é responsável de fato. Assim, fica um jogo de empurra-empurra entre as prefeituras, estados e União para ver de quem é a culpa pela situação da Saúde.

Por ter se tornado universal, o SUS precisa de vultosos investimentos e, enquanto isso não acontecer, haverá filas. O fato do SUS ser universal saturou totalmente os hospitais e postos de saúde. Então é preciso fazer mais investimento. Simples assim.

Diga-se de passagem, essa é a única crítica que pode ser feita ao atendimento do SUS: filas. Ao contrário do que se propala pelas redes sociais por ai, o SUS oferece um excelente atendimento. Inclusive, os tratamentos mais elaborados, como câncer e transplantes, costumam ser feitos pelo SUS, já que muitos planos de saúde não cobrem ou impõe restrições.

Enfim, tanto na Educação, quanto na Saúde, o Brasil passou a ter sistemas universais. E somente o que é universal é realmente público. A universalidade traz alguns problemas iniciais, o que é natural, afinal, cuidar de poucos sempre e mais fácil do que cuidar de TODOS. Mas o País serve exatamente para cuidar do bem comum de TODOS. Ou seja, estamos no rumo certo, mas precisamos intensificar o ritmo.

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De São Paulo-SP.