sexta-feira, 10 de junho de 2011

Uma ilha chamada USP

Por Marcio TAQUARAL

A USP parece uma ilha. No meio de São Paulo, o campus Butantã é um paraíso de grandes áreas verdes, frequentada por gente bonita e inteligente, transporte público gratuito, restaurantes com preços subsidiados, clube, conjunto habitacional e festa toda noite. Às vezes tem até aula naquelas que são algumas das melhores faculdades do Brasil.

A USP parece uma ilha, mas não é. A USP está dentro de São Paulo e faz parte da maior cidade do País. Ou seja, tem todos os seus problemas, como violência, trânsito congestionado, poluição (fica ao lado da Marginal Pinheiros!) e pobreza. Digamos que a pobreza não fica na USP, mas é vizinha dela.

Foi com muita tristeza que recebemos a notícia de que um jovem estudante foi assassinado durante uma tentativa de assalto no estacionamento da FEA. Nos solidarizamos com os pais, amigos e parentes da vítima e consideramos absolutamente normal que estes desejem justiça e punição para os assassinos.

Infelizmente, tragédias como essa sempre são aproveitadas para fazer propostas demagógicas. O problema da segurança pública não é apenas da USP, mas de todo o Estado de São Paulo, e, em particular, da Capital. A violência na USP não é maior do que no resto da cidade. Pelo contrário! Exatamente por isso o fato nos chocou.

Se o problema da USP é segurança, então medidas de segurança devem ser aplicadas. Alguns defendem uma presença maior da Polícia Militar. Outros alegam que a presença ostensiva da PM inibe a liberdade e a autonomia universitária e defendem apenas a Guarda da USP. Independente da solução adotada, o problema não será totalmente resolvido enquanto não forem resolvidas as raízes da violência. Mesmo com presença ostensiva dos mecanismos de segurança, existem crimes dentro de bairros nobres, condomínios fechados, prédios, até mesmo dentro de bancos. As rondas da PM ou da Guarda vão apenas inibir temporariamente a concretização de ações criminosas. A polêmica em torno da presença da PM no campus é falsa, uma vez que a PM já está presente. A questão é a intensidade e ostensividade desta presença.

A questão mais preocupante é a visão de “ilha” que algumas pessoas têm a respeito da USP. Trata-se de uma universidade pública, ou seja, não pertence apenas aos estudantes, professores e funcionários, mas a toda a população. É bastante questionável que o CEPE (Centro de Práticas Esportivas, o clube da USP) seja restrito aos membros e ex-membros da comunidade uspiana. Por que não liberar o acesso aos vizinhos da USP, como ocorre com quase todos os aparelhos esportivos do Estado e da Prefeitura? Coisas de ilha.

Outra concepção de “ilha” é a que restringe o acesso ao campus. A partir das 20hs, só podem entrar de carro os que portarem a carteirinha da USP. Uai, não é um espaço público? Ou a regra funciona para todos ou não funciona para ninguém.

O mais preocupante, enfim, foi o resultado do plebiscito realizado entre estudantes da Poli. Por ampla maioria, os estudantes declararam-se favoráveis à presença da PM dentro do campus, que a Guarda Universitária porte armas de fogo e efeito moral, que o acesso de visitantes exija deles um cadastro e que o portão da Favela São Remo seja fechado durante a noite. Vamos por partes. A presença da PM já existe, trata-se de uma aprovação retórica que no máximo vai ampliar a ostensividade das rondas. O porte de armas de fogo pela Guarda até pode ser entendido, mas por que armas de efeito moral? Para dispersar manifestantes? (essa conversa já está ficando meio enviesada) Cadastro de visitantes é outra daquelas medidas populistas inócuas, pois para funcionar dependeria de um sistema de catracas em todas as entradas, que verificasse todos que entram, sejam estudantes, professores, funcionários ou visitantes cadastrados. A propósito, quem quiser cometer um crime na USP, antes de entrar no campus cometeria outro, bastando roubar o documento de outra pessoa para manter seu anonimato...

Por fim, o mais absurdo é a proposta de fechar o acesso da Favela São Remo. Por acaso os assassinos do estudante da FEA são moradores da favela? E se os assassinos tiverem entrado de carro pela portaria da Rua Afrânio Peixoto com Rua Alvarenga, a P1 seria fechada? Trata-se de uma visão preconceituosa e sem base na realidade, que pretende excluir os pobres da vivência do espaço público. É a mesma visão que mudou o projeto da Linha 4 Amarela do Metrô, que não mais conta com uma estação dentro da USP, o que seria essencial, visto que é um dos principais destinos dos que se deslocam pela região e sendo que dentro dela está o Hospital Universitário, cujo acesso seria facilitado.

Visões como está comprovam que o Poder Público no Brasil e, especialmente, em São Paulo é dirigido por uma pequena elite que pretende segregar a pobreza. A má notícia para eles é que a pobreza não pode ser contida assim e o crime sempre encontrará alternativas, cada vez mais violentas.

**********
De São Paulo-SP.


@MarcioTAQUARAL Coitado do PPS! Gravaram uma propaganda alardeando a volta da inflação, mas foi ao ar bem agora, que a inflação beira ZERO %! Patético!

Nenhum comentário:

Postar um comentário