terça-feira, 18 de agosto de 2009

Muitas coincidências, poucos fatos

Segundo Lina Vieira, ex-Superintendente da Receita Federal, a Ministra Dilma Rousseff a convocou para uma reunião na Casa Civil onde pediu para agilizar as investigações sobre o filho do Senador José Sarney (PMDB-AP).

Se Lina Vieira interpretou a solicitação como um pedido para o engavetamento (Interpretação 1), deveria ter imediatamente denunciado a Ministra, sob pena de cometer ela mesma o crime de Prevaricação (art. 319 do Código Penal). Se não o fez, então interpretou a solicitação de Dilma da mesma forma que a feita pela Justiça, de apressar a investigação sem juízo de mérito (Interpretação 2), o que não tem nada de errado.

Lina Vieira não acusa Dilma, senão teria que provar. Sem provas não acusa, mas deixa uma dúvida no ar. Se Dilma tivesse admitido o encontro, todas as baterias da mídia oposicionista teriam sacrificado a Ministra no altar dos neo-éticos alegando que ela queria proteger o filho de Sarney conforme a Interpretação 1 (mesmo que Lina se ancorasse na Interpretação 2).

Dilma nega até mesmo a realização do encontro. O ônus de provar seria de Lina, mas ela alega não ter os meios para tal, já que o Planalto é que tem o controle de visitas, controle do estacionamento, filmagem dos acessos etc. Seria uma boa alegação, se Lina Vieira ao menos informasse a data do encontro, mas apesar de lembrar detalhes sobre a roupa de Dilma, o teor da conversa, o nome do motorista, Lina Vieira não lembra a data nem o horário...

A partir daí começa a ficar difícil acreditar na ex-Superintendente da Receita. Se ela não lembra o data exato, poderia ao menos dizer aproximadamente, ou o dia da semana, ou em que parte do mês teria sido o encontro. Com alguma aproximação, os vídeos do Planalto podem comprovar se a Lina Vieira esteve na Casa Civil, sem agenda registrada em qualquer outro espaço e se Dilma usou as roupas que ela alega (a confluência desses três elementos fortaleceria sua versão).

Lina esteve no Planalto várias vezes. Dilma usou seu xale no Planalto mais de uma vez. Com alguma sorte, Lina pode ter estado no Planalto no mesmo dia que Dilma usou o xale, mas a versão da ex-Superintendente só começa a ter substância se confirmar a data em que isso ocorreu. Sem a data, tudo poderia ser uma coincidência.

Dizemos que "poderia ser uma coincidência", pois nem mesmo essa coincidência foi confirmada ainda. E só deve ser verificada se Lina informar uma data ANTES do Planalto disponibilizar qualquer vídeo. Se os vídeos forem disponibilizados sem que Lina diga uma data, a mídia oposicionista vai procurar uma coincidência e usá-la como prova para a Interpretação 1, mesmo que Lina tenha afirmado a Interpretação 2. Enfim, na boca da imprensa Dilma é sempre culpada...

Quem é Lina Vieira e o que ela tem a ganhar com tudo isso? Lina Vieira foi demitida da Receita Federal e está ressentida. Talvez ela não ganhe nada com isso, mas vingança sempre foi motivo suficiente...

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De São Paulo-SP.

2 comentários:

  1. Ela disse que foi várias vezes sem agenda no Planalto. Mesmo que tivesse vídeo, só provaria que ela foi ao Palácio sem agenda mas não que tenha tido a reunião ou o teor dela.

    Mesmo se houve a reunião, na época o pedido de "agilizar" me dá a impressão de apressar o processo para achar alguma coisa, que não tem problema nenhum para mim e a justiça já tinha pedido.

    Taquaral wtf foi a fala do lula para a rádio comparando os presidentes que caíram pela mídia com o collor? Não entendi nada ali =(

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  2. Barato isso de não saber nem se foi pela manhã, tarde ou noite, mais barato ainda é saber que a oposição não sabe o que é prescrição, decadência e tampouco que essa é a causa da maior parte dos arquivamentos de investigações ou condenações por crimes.
    Pior que tudo isso é saber que essa "denúncia" ou "escândalo", já nasceu preparado para morrer, apenas para jogarem esse factóide como mais um fato abafado pelo governo.
    Enquanto isso, coisa bem pior é falado lá fora contra o governo de SP e não se vê uma vírgula sobre o assunto nas pautas de discussões dos jornais brasileiros.

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