Por Marcio TAQUARAL
“Preciso descobrir aonde vai essa multidão, para poder liderá-la”
Camille Desmoulins
Não bastou o livro de Lenin (Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo), nem a advertência de Trotsky (Capítulo 19 do Programa de Transição: Contra o sectarismo), os troskos (e afins) continuam Esquerdistas... Mas o que diabos vem a significar “Esquerdista”?
Esquerdista é aquele que sempre busca estar à esquerda de todo mundo. São pessoas que não seguem um programa, não têm ideias próprias e nem objetivo definido. Muito pelo contrário, sempre mudam de opinião para ficar “mais à esquerda”. Considerando que Esquerda é uma posição relativa, ou seja, só existe em comparação com outra (a Direita), o Esquerdista é um idiota que está sempre em movimento girando em círculos conforme as ações dos demais.
Mas para ser Esquerdista, não basta ser de Esquerda, também tem que ser o grilo falante do resto da Esquerda. Isso mesmo, o Esquerdista não se referencia nas ações da Direita, mas nas ações da Esquerda programática (aquele setor que estuda, elabora e é coerente com suas lutas). A Esquerda séria avalia a conjuntura e com base em seu arcabouço teórico (seja ele qual for) toma posições. O Esquerdista não, ele simplesmente espera o posicionamento da Esquerda e se coloca mais à esquerda...
A crítica sempre é importante, mas desde que tenha alguma consistência. E, preferencialmente, que seja feita por quem tem alguma atuação concreta. É muito fácil ficar encastelado na academia criticando a luta dos outros.
A crítica sempre é importante, mas desde que tenha alguma consistência. E, preferencialmente, que seja feita por quem tem alguma atuação concreta. É muito fácil ficar encastelado na academia criticando a luta dos outros.
O Esquerdismo não constrói nada, não faz lutas, nem ajuda a Esquerda real, porque sua única preocupação é em demarcar espaço. Se algum grupo atinge o poder (que é o objetivo de todo grupo político racional), por mais radical que este grupo seja, um Esquerdista imediatamente vai se colocar mais à esquerda, ou seja, na oposição. Resumindo, o Esquerdista é, por convicção, sempre contra. Sendo contra, nunca assume o Poder, ou seja, nada constrói, apenas critica, detona e destrói. Nesse sentido, podemos dizer que muitos Esquerdistas vão tão à esquerda que acabam dando a volta e, quando menos se percebe, já estão na extrema-direita.
Em ação, algumas vezes o Esquerdista lembra uma criança mimada, que exige sua reivindicação e ponto. Não explica, não justifica, não argumenta e não negocia: apenas exige! Em outras ocasiões, o Esquerdista age como um mal jogador de pôquer. Só joga se for all win, ou tudo ou nada. Se sua reivindicação for 100 e oferecerem 99, então ele não aceita e prefere continuar com ZERO. Por fim, existem ocasiões em que o Esquerdista atua como um terrorista arrogante, que apresenta sua reivindicação junto com uma consequência exagerada no caso de uma negativa. Na maior parte das vezes, a consequência é tão exagerada que o Esquerdista nunca teria condições de realizá-la.
Outra incrível capacidade dos Esquerdistas é de se dividir igual fazem as amebas. No caso dos trotskystas chega a ser anedótica a quantidade de 4ªs Internacionais que existem por ai. Cada grupelho de três militantes se sente no direito de reivindicar “a única e verdadeira 4ª Internacional”. Sendo assim, a quantidade de 4ªs Internacionais é sempre inversamente proporcional à real influência do trotskysmo no mundo real (e convenhamos, existem muuuuuitas 4ªs Internacionais por ai!). Esse divisionismo é um reflexo interno de seu sectarismo extremado, afinal, quem luta para estar à esquerda de tudo e todos, também buscar estar à esquerda em seu próprio grupelho inexpressivo. Uma vez à esquerda de seu próprio grupelho, então é hora de denunciar a “direção majoritária e burocrática” que é “correia de transmissão” de alguma coisa “pelega”, “centrista” ou “traidora”. Nesse momento os antigos aliados se tornam os principais inimigos e eles racham para criar um novo grupelho cujo objetivo principal é denunciar o grupelho anterior.
Em suma, o Esquerdista é uma espécie de pernilongo que fica o dia inteiro zumbindo proclamações grandiloquentes, verborrágicas e estapafúrdias nos ouvidos dos outros. Nas poucas ocasiões em que o Esquerdismo teve algum papel destacado, ele serviu aos interesses da Direita (por exemplo, a quinta coluna durante a Guerra Civil Espanhola). Por sua vez, considerando que influência é uma exceção na trajetória do Esquerdismo e, em geral, eles são apenas chatos sem relevância, vale mais a pena se divertir com eles do que se incomodar.
ESCLARECIMENTO: A crítica não é dirigida à Esquerda e seus militantes, mas ao Esquerdismo (termo criado por Lênin para denunciar um desvio).
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De Cotia-SP.
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