Por Marcio TAQUARAL
Virou lugar comum alertar sobre o “risco de desindustrialização no Brasil”. Certamente, essa deve ser uma das preocupações centrais da equipe econômica, até maior do que a preocupação com a inflação. Porém, como todo lugar comum, este “alerta” deve ser analisado com cautela.
Virou lugar comum alertar sobre o “risco de desindustrialização no Brasil”. Certamente, essa deve ser uma das preocupações centrais da equipe econômica, até maior do que a preocupação com a inflação. Porém, como todo lugar comum, este “alerta” deve ser analisado com cautela.
Em primeiro lugar, é importante diferenciar a desindustrialização relativa da desindustrialização absoluta. O desenvolvimento do capitalismo leva a um aumento do setor de serviços, ou seja, a participação da indústria no PIB diminuiu, mesmo que a produção aumente: essa é a desindustrialização relativa. A desindustrialização absoluta ocorre quando a indústria diminui em números concretos, não apenas em comparação a sua participação no PIB, ou seja, quando a produção diminui. Enfim, a desindustrialização relativa ocorre até mesmo em economias saudáveis, desde que, é claro, o setor industrial continue crescendo em números absolutos. Essa é a primeira questão: ocorre no Brasil a desindustrialização relativa ou absoluta?
Em segundo lugar, devemos procurar as origens dessa desindustrialização. O setor industrial acusa o câmbio supervalorizado, que estimula a importação de manufaturados. De fato, o câmbio pode ser uma das causas, mas a ausência de uma política protecionista ou a falta de competitividade da indústria nacional também podem ser as razões. Enfim, independente da causa específica, cabe o Governo Brasileiro tomar as medidas necessárias para sanar o problema.
A taxa de câmbio valorizada é um reflexo da política financeira conservadora do Banco Central, baseada no tripé taxa de juros, meta de inflação e superávit primário. Trata-se de um atravancamento da economia do País, mas ninguém se arrisca a mexer nisso por causa do eterno fantasma da inflação. Além disso, se por um lado o câmbio atrapalha a indústria, por outro ele estimula a exportação de commodities, ou seja, tem seu lado positivo. O importante é não cair na chamada “doença holandesa”, quando um país fica tão alegre com a exportação de produtos primários que não defende seu setor industrial e, quando os preços dos recursos naturais caem (e sempre caem), o país vai à bancarrota, igualzinho a Holanda no final dos anos 70.
Em suma, se o Governo não vai mexer no câmbio, restam duas opções: protecionismo ou aumento da competitividade. A primeira opção é mais fácil e rápida, basta taxar os produtos importados ou subvencionar os nacionais. Em geral, isso geraria algum tipo de problema na OMC, pois são medidas contra o livre comércio. Mas, se todos fazem, por que não? A outra opção é mais lenta, porém mais consistente. Além disso, o aumento de competitividade pressupõe algum tipo de protecionismo em um estágio inicial. Para aumentar a competitividade, o Brasil deve investir em inovação tecnológica, o que pressupõe um estruturado sistema educacional. Resumindo, as duas opções devem ser casadas (é o que a China faz e o que os EUA e a Inglaterra fizeram): protecionismo enquanto se garante a competitividade.
O Brasil nunca será uma potência de fato enquanto não produzir micro-chips, turbinas e dominar o ciclo atômico (mesmo que para fins pacíficos). E somente a atuação do Estado Brasileiro pode alcançar tal nível de tecnologia.
O desenvolvimento tecnológico é um setor que combina a participação da economia privada e do Estado, uma vez que requer um montante vultoso de investimento. Em geral, as empresas não arriscam imobilizar seu capital de maneira tão arrojada, pois querem resultados rápidos. O Estado, por sua vez, tem uma existência mais tranqüila e perene, podendo fazer tais investimentos. A questão é como combinar tal atuação.
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De São Paulo-SP.
De São Paulo-SP.
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