segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Trote sim, violência não

O trote universitário deveria ser um rito de passagem, uma recepção festiva dos calouros pelos veteranos. Diferente do Ensino Básico, em que os professores recepcionam os novos alunos e ajudam na identificação do ambiente, das informações, de seus direitos e deveres, no Ensino Superior os estudantes é tem que se virar para descobrir como funciona o ambiente universitário, já que nenhum professor ficará paparicando os novatos. Por conta disso, o trote cumpre um papel de integração, já que os veteranos podem aproveitar o evento para conhecer os calouros e transmitir informações úteis a eles.

Infelizmente, na sociedade capitalista os valores humanísticos são completamente distorcidos e, durante o trote universitário, muitas vezes o caráter festivo do evento se converte na realização de violências físicas e morais. Gente frustrada existe em todo lugar, mas a falsa relação hierárquica entre os calouros e veteranos serve de oportunidade para que gente idiota se aproveite da situação. Em geral, a violência do trote é sempre cometida pelos mais covardes, já que somente encobertos na idéia coletiva de “veteranos” os agressores têm coragem de maltratar o calouro ainda não integrado ao novo ambiente. O veterano agressor do primeiro dia de aula não teria o mesmo comportamento se estivesse sozinho, assim como, mesmo em grupo, não teria coragem de abusar do calouro após uma semana de aula (tempo em que os novatos já se integraram, conheceram seus colegas de sala e constituíram seu grupo).

Propor alternativas ao trote violento é sempre uma questão delicada, já que o trote não é a causa original da violência, mas a ocasião que gera as condições para a manifestação da violência reprimida do veterano covarde. Proibir o trote não é a melhor solução, primeiro por conta do importante papel que o trote saudável pode exercer; segundo porque a proibição não funciona, já que os calouros querem se integrar aos veteranos e, se não ocorrer dentro da universidade, ocorrerá fora dela. Ou seja, proibir pura e simplesmente, além de não resolver o problema, faz com que a violência ocorra mais longe da Instituição de Ensino, ou seja, com muito menos controle.

A melhor alternativa ao trote violento é a realização de um evento concorrente, de maior envergadura, que seja mais atrativo a calouros e veteranos, de modo que, em vez de afastar os alunos da universidade, o trote os traga para mais perto. Existindo um evento organizado, a manifestação de violência reprimida do veterano covarde não se manifestará por temor da reação das demais pessoas.

O papel de organizar tal evento cabe tanto às Instituições de Ensino como às entidades de representação dos estudantes, como os Centros Acadêmicos, Atléticas, DCEs, as Uniões Estaduais dos Estudantes e a UNE.

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