terça-feira, 11 de outubro de 2011

Simonal e a auto-anistia da Rede Globo

Por Marcio TAQUARAL

Com o filme “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei” e o livro “Nem Vem Que Não Tem – A Vida e o Veneno de Wilson Simonal” tenta-se fazer a reabilitação do popular cantor Wilson Simonal, que fez muito sucesso nos anos 70 e depois foi sumariamente esquecido. Mas se vamos falar em reabilitação, antes precisamos saber de qual crime Simonal está sendo perdoado. O filme é muito claro sobre o crime e o veredito: Wilson Simonal foi injustamente acusado de alcagüete da Ditadura Militar e, conseqüentemente, teve sua carreira artística boicotada pela Esquerda até ser totalmente esquecido. É uma teoria, mas que não se sustenta diante dos fatos

Então vamos aos fatos: Wilson Simonal era um cantor de muito sucesso e estava em grande evidência. Wilson Simonal tinha muitos amigos no DOPS. Wilson Simonal pediu que seus amigos do DOPS dessem um “susto” em seu ex-contador. Os amigos do Simonal levaram o contador ao DOPS e torturaram-no por alguns dias. Quando o caso veio à tona, Simonal deu várias declarações (como já tinha feito antes) dizendo que apoiava a Ditadura e que o contador era “terrorista”. Ninguém contesta essa parte.

A partir daí, começam as elucubrações. Em primeiro lugar, segundo a tese do filme, Simonal não era um alcagüete, pois sequer tinha compreensão do momento político do Brasil. Em segundo lugar, ainda segundo o filme, Simonal teria incomodado a Esquerda pela versão de “País Tropical” e outras musicas de louvação ao Brasil. Em terceiro lugar, decorrente dos dois anteriores, a Esquerda passou a boicotar sistematicamente a carreira de Simonal, até que ele entrou em decadência, pois não aparecia mais na televisão e não consegui fazer shows.

A tese de que ele não era um alcagüete por não ter compreensão do momento político é sempre a resposta fácil. Ser alienado justificaria sua passividade diante da Ditadura, sua omissão em denunciar a repressão e sua conivência em ser usado como símbolo de um regime que odeia o próprio Povo. Mas existe uma grande distância que separa o passivo/ omisso/conivente do entusiasta. Simonal pode não ter sido alcagüete (talvez tenha), mas com certeza era um apoiador da Ditadura e tinha orgulho de seus amigos no aparelho repressivo. Roberto Carlos era alienado/ passivo/ omisso/conivente, mas ninguém o acusou de ser alcagüete. E não faz sentido culpar a Esquerda por evitar a companhia de Simonal, afinal, no meio da Ditadura, quem ia ser o doido de arriscar ser dedurado?

A tese de que Wilson Simonal era perseguido pela Esquerda por causa das músicas de louvação ao Brasil também não tem muito fundamento. Basta lembrar que a música destacada pelo filme, na verdade, é de Jorge Ben. Ao que se sabe, Jorge Ben não entrou em decadência. Nem foi perseguido pela Esquerda.

Ainda que as duas primeiras teses fossem verdadeiras (coisa que discordamos), a terceira tese em conclusão a elas é a mais absurda. Não faz o menor sentido imaginar que a Esquerda, que era perseguida, cassada, censurada, exilada, presa, torturada e morta pela Ditadura, teria tempo ou preocupação em ficar atormentando o inocente Wilson Simonal. Se houve um momento que a Esquerda não tinha força, foi exatamente na época em que Simonal entrou em decadência. No filme, essa explicação é dada por Boni, ex-Diretor da Globo. Segundo ele, a empresa era cheia de “comunistas”. Ao que se sabe, era mesmo. Mas isso não significa que os “comunistas” da Globo tinham algum poder dentro desses meios de comunicação, pois se isso, afinal, significasse, então a Globo certamente não teria sido a principal porta-voz da Ditadura Militar (dividindo o posto com a Folha de São Paulo). E se os “comunistas” da Globo tivessem alguma ingerência na escolha dos artistas que a emissora promovia, certamente as carreiras de Roberto Carlos, Tarcisio Meira, Pelé e outras celebridades teriam morrido junto com a de Simonal.

A explicação de Boni, endossada convenientemente pelos filhos de Simonal (Max de Castro e Wilson Simoninha), é exatamente a que isenta a Globo pelo fim da carreira de Simonal. Exatamente esse é o ponto. Wilson Simonal entrou em rota de colisão com a Globo, organizou a Simonal Produções Artísticas para disputar o mercado fonográfico, desmarcou sua participação no Festival da Canção e, por isso, entrou na lista negra da emissora (nada a ver com os “comunistas”). Quem acabou com a carreira de Simonal foi a poderosa Rede Globo e o filme serve exatamente para encobrir essa verdade.

Sem espaço na Rede Globo, Wilson Simonal, que não tinha o público cativo da classe média (que preferia Jovem Guarda), passou a depender apenas dos setores mais populares da música Brasileira, porém estes setores estavam é morrendo de medo dele.

Talvez o destino de Simonal tenha sido injusto. Talvez não. Se foi, que sua reabilitação não sirva de anistia para a principal culpada de sua decadência: a Rede Globo. Mas, como se sabe, na guerra a primeira vítima é sempre a verdade. E para a Globo, a guerra continua.

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De São Paulo-SP.

3 comentários:

  1. vi so agora infelizmente... mas o artigo é genial, concordo e considero

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  2. O titulo até me interessou. Mas só balela. Não explicou nada. Um morde e assopra danado!

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