sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Governo Lula x Governo FHC

Na quinta-feira (10/12/2009) foi ao ar o Programa Nacional do PT. O programa foi muito bem elaborado e pontuou com clareza as principais diferenças entre o Governo Lula e o Governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. A comparação com FHC chega a ser até covardia: privatizações, desemprego, submissão aos interesses das grandes potências e dependência econômica são as principais lembranças do governo tucano.

Fazendo uma análise pontual, podemos dizer que o Governo Lula tem dois méritos fundamentais. O primeiro mérito foi a condução da economia com foco no crescimento e no desenvolvimento. O segundo foi a redução das desigualdades sócias, através dos vários programas sociais e do aumento real e constante do salário mínimo. Na época da Ditadura, o Ministro da Fazenda Delfin Netto dizia que era preciso fazer o bolo crescer para dividi-lo. Lula fez o bolo crescer e dividiu ao mesmo tempo. Por isso este governo ostenta altíssimos índices de popularidade.

Apesar destes dois méritos fundamentais, faltou ao Governo Lula medidas estruturantes. Tudo que foi criado nos últimos sete anos ainda é por demais dependente dos programas do Governo Federal, ou seja, basta uma mudança no titular do Poder Executivo e toda a mudança pode ser facilmente revertida. A economia cresceu, é fato, mas cresceu nos setores pouco estratégicos, o que mantém a posição do Brasil como país subdesenvolvido. A igualdade social aumentou, mas basta uma canetada para que todos os programas sociais voem pelos ares.

No caso da Economia, o Brasil cresce amparado no setor exportador de commodities, produtos primários de baixo valor agregado. Falta ao Brasil tecnologia para desenvolver micro-chips, turbinas, energia nuclear etc. Somente com isso pode-se dizer que o País é economicamente soberano.

Com relação à igualdade social, todos os programas sociais são válidos e importantes, mas são meros paliativos. Basta uma decisão do novo presidente para fazer sumir o Bolsa-Família, Luz Para Todos, PROUNI etc. Faltou ao Governo Lula investimentos nos setores sociais estruturantes. No caso da Educação, apesar de investimentos muito superiores a todos os governos precedentes (Lula criou mais universidades que Juscelino Kubitscheck), ainda foram insuficientes para tornarem a mudança irreversível. Somente quando houver escola de qualidade e universidade pública universal o Povo deixará de depender de auxílios emergenciais.

O Governo Lula já está entre os melhores da História do Brasil, mas a mudança que ele promete ainda está distante.

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De São Paulo-SP.

2 comentários:

  1. Taquaral,

    FHC tinha, a priori, uma meta que eu julgo certa: O desmonte do falido estado varguista e a modernização do país em um processo que envolveria a integração do país ao mundo globalizado, a modernização tecnológica e o avanço dos direitos civis.

    Objetivamente, eu vejo três grandes fracassos em seu governo que, juntos formam uma única e grande tragédia:

    (I)Ele fracassou na política de relações exteriores porque apostou em um atlantismo cego e extemporâneo que sobrevalorizou o eixo EUA-UE e desconsiderou o avanço dos países asiáticos - principalmente China e Índia - bem como as projeções para a economia mundial que apontavam para um crescimento maior dos pobres do que dos ricos pelos próprios (des)caminhos da divisão internacional do trabalho dentro da economia globalizada. Por pouco, muito pouco ele não nos enfim naquela roubada que atendia pelo nome de ALCA.

    (II)Escravo de interesses do mercado financeiro e de uma elite capitalista muto pequena que descobriu que poderia ganhar muito dinheiro sem correr o risco da produção, construiu uma gambiarra tecno-financeira, fez os trabalhadores pagarem pelos custos dos ajustes necessários para o fim da inflação monstro e armou a bomba-relógio que iria levar o PT ao poder - isso comprometeu em grande medida os avanços relevantes que aconteceram na área de liberdades individuais em seu Governo.

    (III)A política social de seu Governo foi insuficiente e levando em consideração os estragos da política econômica, era como alguém tapar os buracos no casco de um navio causados por centenas de torpedas com as mãos. Isso tem um agravante quando tratamos do Nordeste que ele praticamente entregou nas mãos da estrutura política de ACM, o que atrasou uma possível alavancagem da região com os instrumentos da CF de 88.

    Lula pegou o país e quanto a esses três pontos:

    (I) Reverteu desde o primeiro momento os erros da política de relações exteriores anterior tocando um dos maiores empreendimentos internacionalistas da década; a chancelaria brasileira capitaneada por Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães subverteu o atlantismo anterior sem cair num terceiro-mundismo e em sete anos transformou o Brasil em um player de respeito no cenário internacional, seja no aspecto puramente político quanto comercial.

    (II) Hesitou bastante na política econômica em um primeiro instante, procurou fazer o feijão com arroz na política fiscal, mas como não conseguiu escapar da arapuca do financismo, acabou apresentando resultados ruins que só não foram piores por conta do quanto o país aproveitou a expansão da economia mundial devido à excelente política externa. Em um segundo momento, tocou adiante o PAC e programas de promoção de crédito utilizando os bancos estatais e reduzindo em certa medida (ainda insuficiente, é verdade), a taxa de juros - o aumento da capilaridade do sistema creditício, no entanto, acabou catalisando o processo. A economia respondeu bem, cresceu bastante em 2007/08 e aguentou bem o tranco durante a Crise Mundial.

    (III) A política social apresentou os erros e os defeitos que você apresentou e teve o seu saldo positivo, por sua vez, o fato do Governo Lula ter desmontado o esquema político de ACM na região nordestina e assim provocou o maior avanço daquela parte do país décadas - que desde Celso Furtado, sabe-se que é a chave para a resolução dos problemas sociais nacionais.

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  2. Faltaram, concordo, medidas estruturantes. Também o modo como o PT e se institucionalizou e se entronizou na estrutura formal do sistema político-partidário apontam para um futuro nada animador em termos do potencial que o partido da estrela terá em alguns poucos anos - também me incomoda o fato do partido ter perdido a Emancipação Humana do horizonte visual e se acostumado apenas a ser o administrador republicano das questões nacionais.

    Hoje, o Brasil tem uma oposição sem projeto e uma situação com um projeto em vias de esgotamento. Será que os avanços dos últimos anos produzirão a tão necessária reeoxigenação do sistema ou pela forma como aconteceram isso será impossível?

    abraços

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