Sexta-feira (26/11/2010) ocorreu na PUC-SP um ato contra o racismo. A atividade foi motivada por agressivo e-mail de conteúdo racista que uma estudante de Direito recebeu de uma colega de sala. É inevitável a comparação deste fato com as manifestações anti-nordestinos de Mayara Petruso, também estudante de Direito, mas da FMU. Alguns consideram assustador que tais manifestações de ódio contra o povo sejam emitidas por estudantes do ensino superior. Assustador é apenas a sinceridade destas pessoas, pois o ódio que as elites têm pelo povo Brasileiro fica evidente na situação degradante a que a população pobre é submetida neste que é um dos países mais ricos do mundo.
O caso da PUC-SP chama a atenção, pois se trata de uma instituição que se notabilizou por exercer o ensino crítico e a visão social, mesmo durante os anos da Ditadura Militar. Infelizmente, os estudantes que optam por estudar na PUC não o fazem por conta de seu histórico político, mas sim por conta de seu reconhecimento no mercado de trabalho. Sendo assim, uma instituição progressista contém em seu corpo discente elementos reacionários que apenas buscam tecnicismo e a posição social decorrente dele.
Outro aspecto a ser analisado nestas situações é o fim do apartheid no ensino superior Brasileiro. Até os anos 90, somente os mais ricos tinham seu ingresso garantido na universidade (e, consequentemente, nas altas esferas de trabalho e cargos de direção). Isso ocorria porque não havia vagas suficientes nas universidades (que, em sua massacrante maioria, eram públicas) e os estudantes passavam por um filtro chamado vestibular.
O vestibular é uma prova exageradamente tecnocrática que só avalia quem decorou mais conhecimentos. Decorrente dele, surgiram os “cursinhos pré-vestibular”, que preparavam os filhos da elite para decorarem bastante conteúdo e passar na prova. Como a escola pública foi abandonada desde 1967 (com os acordos MEC-USAID da Ditadura Militar), apenas os ricos estudantes de escolas privadas e de cursinhos pré-vestibular tinham acesso ao ensino superior. Isso mantinha a divisão social do trabalho, pois garantia que os filhos dos ricos (mesmo que fossem burros) teriam acesso aos mesmos empregos superiores que seus pais e, consequentemente, continuariam ricos.
A partir dos anos 90, foi identificado que a educação superior poderia ser um lucrativo negócio. Diante disso, o Governo Fernando Henrique Cardoso liberou a abertura desenfreada de faculdades. O Ministério da Educação (MEC) deixou de lado rigorosos critérios de autorização e cada empresário sentiu-se a vontade de abrir uma faculdade em cada esquina. Propostitalmente, por falta de fiscalização do MEC a ampla maioria destas novas faculdades não tinha a menor qualidade de ensino. Por outro lado, tal movimentação ampliou de maneira exponencial a quantidade de vagas no ensino superior, desde que, é claro, se pagasse o preço.
Com o tempo, o mercado entrou em crise pelo excesso de oferta e começou haver concentração no setor, as faculdades menos lucrativas foram absorvidas pelas mais lucrativas. Ao mesmo tempo, o MEC (já no Governo Lula) passou a exercer mais controle sobre as faculdades particulares.
Com isso, a educação superior Brasileira ficou dividida em dois estamentos. Na base, as faculdades privadas, que cobram mensalidades mais baixas e oferecem cursos com qualidade não muito boa (mas nem muito ruim). No alto, as faculdades com alta qualidade, sejam as públicas gratuitas, sejam as privadas tradicionais que cobram mensalidades extorsivas. Neste cenário, o diploma de ensino superior deixou de ser o passaporte para os altos cargos. Os profissionais formados nas faculdades do primeiro grupo (de baixo) passaram a ocupar os cargos intermediários, de gerências subalterna. Enquanto isso, os cargos de alto escalão continuam restritos aos que se formarem nas faculdades públicas ou privadas tradicionais (do alto).
Mais recentemente surgiu um novo elemento: o Programa Universidade para Todos (PROUNI). Estudantes de baixa renda originários da rede pública (que fizeram todo o Ensino Médio na rede oficial, ou que estudaram na rede privada com bolsa de estudos) passaram a receber bolsas do Governo Federal para estudar nas universidades privadas. Com isso, estudantes altamente qualificados, mas com pouco poder aquisitivo puderam estudar nas universidades privadas, tanto as de cima, como as de baixo. Os estudantes do PROUNI, segundo estudos do MEC, mantêm médias e desempenho bastante superior aos estudantes não-prounistas.
Por um lado, o ingresso dos estudantes do PROUNI nas universidades privadas rompe de vez com o apartheid existente no ensino superior. Por outro lado, o PROUNI gera certa tensão social, pois os filhos da elite que estudavam nas universidades privadas tradicionais passaram a serem colegas de estudantes muito pobres, porém muitas vezes mais inteligentes. Talvez essa seja a motivação do e-mail racista na PUC.
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De Cotia-SP.
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