segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sobre a Cracolândia 2

Feitas as considerações anteriores, tratemos do tema da Cracolândia.

A região conhecida da cidade de São Paulo conhecida como Cracolândia é um trecho degradado do Centro que sempre foi ignorado pelas autoridades (como os morros cariocas). Diversos casarões e prédios abandonados foram ocupados por pessoas em condições miseráveis.

Numa bela tarde, o então-Prefeito José Serra decidiu implodir os prédios feios e abandonados da Cracolândia e “revitalizar” a região. Só esqueceram que aqueles prédios estavam cheios de gente, que foram todos para a rua. Então um problema invisível, ficou evidente. Após 5 anos sem tomar qualquer atitude, a situação ficou insustentável. Os usuários fecharam algumas ruas, consumiam drogas a céu aberto, jogavam lixo no chão entre outros crimes gravíssimos.

Aproveitando o ano eleitoral, o suposto-prefeito Gilberto Kassab (que era vice do Serra) e o Governador Geraldo Alckmin resolveram varrer a Cracolândia. Num primeiro momento a ação merece elogios: de fato o poder público não deve permitir que uma rua da cidade tenha seu trânsito permanentemente interrompido. Além disso, a limpeza pública é obrigação do poder público e, se alguém estiver prejudicando seu exercício, é legítimo o uso das forças de seguranças para garantir sua execução.

Mas os elogios acabam por ai, pois a ação na Cracolândia se resumiu a uma ocupação militar daquele território, visando “dispersar” os usuários. O que é uma grande burrice, pois os usuários simplesmente se deslocaram para outras ruas da região. Os traficantes seguiram os usuários (em geral, os traficantes de crack também são usuários). Ficar “espantando” os craqueiros não vai resolver o problema, uma vez que essas pessoas vão continuar existindo e sendo viciados. A única alternativa é o tratamento, mas essa parte do plano foi esquecida.

Enquanto houver viciados, haverá traficantes. Não adianta acabar com os traficantes, pois outros surgiram para substituir.

Além de problema de saúde, o crack é reflexo de um problema social. A Cracolândia de São Paulo tem crack porque é a droga mais barata. É a única que essas pessoas miseráveis podem comprar. Na Europa o crack é caro e o problema social é com a heroína. Onde não há crack e heroína, há álcool. As drogas são uma doença, é fato, mas em geral são reflexo de um problema social anterior. Afinal, onde estavam esses usuários antes de caírem no crack? Por acaso estavam com bons empregos, famílias estruturadas e comida farta na mesa? Com raríssimas exceções (que sempre ganham muito destaque na mídia), os usuários já eram miseráveis muito antes de conhecerem a droga. E o crack gera um efeito circular, pois deixa as pessoas em um estado que impede de sair da miséria.

Para acabar com a Cracolândia são necessárias medidas de saúde pública para tratar os usuários. Na Alemanha destacam-se as salas de consumo assistido. Ao fazer isso, o Estado pode cadastrar os usuários, fazer diagnósticos, garantir que a droga tenha um mínimo de qualidade, oferecer serviços básicos de saúde, higiene e, principalmente, informação.

As pessoas sempre vão usar drogas, motivados por sua situação social ou pessoal. Algumas têm predisposição ao vício, ficando à serviço da droga. Tratar uma doença com repressão não faz sentido e não traz qualquer resultado efetivo.

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De São Paulo-SP.

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