quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O fim do Euro? Pobre Alemanha...

Por Marcio TAQUARAL

Muita gente inteligente saudou a crise de 2008 como a pá de cal que faltava para enterrar o Neoliberalismo. Afinal, foi a falta de regulamentação que derrubou a economia mundial naquela data. Uma crise semelhante, em 1929, decretou o fim do liberalismo econômico clássico (laissez faire, laissez aller, laissez passer) e com isso ganharam forças as teses que apoiavam o papel intervencionista e regulador do Estado.

Ocorre que as ideologias não são derrotadas apenas com argumentos racionais, pois, se assim fosse, o liberalismo nunca teria ressurgido nos anos 70 (com uma roupagem supostamente moderna e um prefixo “neo”). O mesmo acontece com a crise de 2008 em sua segunda etapa (que vai se constituindo em uma crise em W): na hora mais aguda da crise, quando os bancos ameaçavam ir à bancarrota, todos os economistas esqueceram o credo na mão invisível do mercado e clamaram pela ajuda do Estado, mas, assim que a crise arrefeceu, imediatamente voltaram suas baterias em defesa das teses velhacas de sempre (gasto público elevado, Estado ineficiente, superávit primário, ajuste fiscal, corte de direitos trabalhistas e benefícios sociais).


(Em parte, a culpa pela retomada de força do credo neoliberal em menos de três anos de crise é dos setores progressistas. Ao mesmo tempo em que soltavam fogos de artifício e retrucavam “eu não disse, eu não disse”, os partidos de Esquerda não apresentaram qualquer alternativa à crise. Os partidos de Esquerda, quando assumiram os governos de países em crise, mantiveram as políticas neoliberais, apenas adicionando algumas tímidas medidas desenvolvimentistas. Ora, em política pouco adianta identificar o problema sem apontar a solução. O resultado disso é que assim que a crise diminuiu, os conservadores retomaram suas posições, afinal, os partidos de Esquerda pouco fizeram para desmontar as políticas neoliberais.)

A postura de defender teses neoliberais para um problema causado pelo neoliberalismo ficou particularmente evidente na atuação do governo da Alemanha durante a crise da Grécia. O problema da Grécia não é o Estado, mas a total paralisia de sua economia e a única solução para isso é a injeção de mais dinheiro no mercado. Ocorre que cortar aposentadorias, diminuir os gastos públicos e realizar ajustes fiscais vai diminuir a quantidade de dinheiro na economia e aumentar a quantidade de dinheiro investido nos bancos. Ora, trata-se da opção mais equivocada que um governo poderia fazer em um momento como este.

Ocorre que o governo da Alemanha, liderado pela chanceler Ângela Merkel, nunca esteve preocupado com a economia grega (ou italiana, ou portuguesa, ou norte-irlandesa etc), mas sim com os bancos alemães, que são credores dos gregos... Traduzindo, as medidas que a Alemanha queria impor à Grécia prejudicariam a economia grega diretamente, mas o governo alemão preferiram defender os bancos a apoiar um país aliado.

Ao condicionar a ajuda aos gregos à imposição de medidas econômicas equivocadas, Ângela Merkel deixou a crise se aprofundar, prejudicando a Itália, a França e... a Alemanha. O resultado desse erro foi a desestabilização do Euro. Se não houver ajuda à Grécia, a moeda única europeia entrará em crise de credibilidade da qual só haverá duas alternativas: ou saem os países cujas economias estão enfraquecidas (como o sul da Europa) ou saem os países cujas economias não estão tão mal (como o norte da Europa). Resumindo, se não houver acordo, o Euro vai simplesmente acabar (mesmo que continue, nunca terá a mesma importância).

O problema é que a economia alemã é dependente do Euro. Os Estados Unidos e a China tem mercados consumidores internos que são suficientes para aquecer suas economias, ou seja, mesmo numa crise, eles têm condições de manter seu parque industrial competitivo para retomar espaço no mercado mundial nos tempos de crescimento. A Alemanha não: o que mantém o aquecimento da economia alemã é o mercado europeu. Com o fim do Euro, os produtos alemães perderão os benefícios alfandegários que detém, deixando de ter prioridade nos mercados dos demais países da Europa (afinal, por que manter benefícios aos alemães se o Euro acabou?).

Com o fim do Euro e sem o mercado europeu, a Alemanha não terá como manter sua economia aquecida durante a crise, ou seja, não estará competitiva quanto a China e os EUA quando as coisas se acalmarem.

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De São Paulo-SP.

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