A proposta do presidente americano Barack Obama desagradou os dois lados da disputa israelense-palestina. Talvez este seja o seu mérito.
A luta entre israelenses e palestinos pouco tem a ver com religião ou cultura. Também não é verdade que judeus e árabes briguem há mais de três mil anos. Trata-se de uma disputa política sobre o território da colônia inglesa chamada Palestina.
Foi nesse pedaço de deserto que o povo judeu organizou-se historicamente, chamando-a de Terra Prometida. Em 70 d.c. o Império Romano destruiu Jerusalém e expulsou de lá os judeus.
Entre 636 e 639, os árabes liderados pelo Califa Omar (o segundo depois da morte de Maomé) conquistaram dos bizantinos o território da palestina. Durante o domínio árabe, a Palestina foi uma terra muito mais livre do que a Europa, principalmente em termos religiosos, como pôde ser atestado pelos poucos judeus que por lá ficaram e que nunca foram perseguidos (ao contrário do que ocorreu na Europa)
Em 1099, os cruzados invadem a Palestina e fundam reinos latinos, que duraram pouco mais de um século, sendo conquistados pelos mamelucos. Entre 1512 e 1520, a Palestina passou para o controle dos Turcos Otomanos, onde permaneceu até a 1ª Guerra Mundial.
Enfim, os judeus foram expulsos da Palestina no século I d.c. Os árabes chegaram lá setecentos anos depois e continuaram até hoje. A partir do século XIX, surge na Inglaterra uma ideologia chamada Sionismo. Tratava-se de um movimento que pregava o retorno dos judeus para sua Terra Prometida. A idéia caiu no gosto da monarquia inglesa, que era anti-semita e adoraria a oportunidade de se livrar dos judeus. Sendo assim, a partir do século XIX começou o gradual retorno dos judeus para a Palestina.
A relação entre judeus e árabes na Palestina sempre foi boa, tranqüila e serena. Até porque, tratam-se de povos com a mesma origem, afinal ambos são semitas. O problema começou a partir da 1ª Guerra Mundial, quando a Palestina ficou sob mandato britânico. A imigração dos sionistas ficou maior e começaram a se organizar grupos terroristas, que a princípio lutavam apenas contra a Inglaterra, sem incomodar os árabes.
Após a 2ª Guerra Mundial, a pressão do Holocausto deu forças ao projeto sionista e a ONU decidiu dividir a Palestina entre os judeus e os árabes. A proposta não foi aceita pelos árabes, mas mesmo assim, Israel declarou sua independência e, conseqüentemente, foi invadido por sete países árabes. Ocorre que Israel venceu a guerra, ocupou 75% do que deveria ser a Palestina dos árabes (segundo a resolução da ONU) e expulsou os palestinos. A Jordânia ocupou a Cisjordânia e o Egito ocupou a Faixa de Gaza.
Em 1967, o exercito israelense invadiu e ocupou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e a Península do Sinai (do Egito) durante a chamada Guerra dos Seis Dias. Apesar da Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU determinar a retirada das tropas israelenses dos territórios ocupados e o retorno dos refugiados palestinos, Israel não obedeceu (quanto à península de Sinai, Israel a devolveu ao Egito em 1979 após um tratado de paz).
Enfim, a situação é basicamente esta: o Estado de Israel mantém sob ocupação o território do que deveria ser o Estado da Palestina, impede sua independência, viola sua soberania e, de tempos em tempos, invade e massacra sua população. Enquanto isso, 7 milhões de refugiados palestinos vivem em campos na Jordânia, Líbano e Síria, sendo impedidos de voltar para suas casas.
Trata-se de uma situação insustentável, não apenas do ponto de vista humanitário, mas também com relação a segurança dos israelenses, uma vez que a tensão na região é permanente, sendo palco constante de revoltas, atentados terroristas e atos de violência de toda ordem. Porém, existem grupos extremistas de ambos os lados que ganham força dos momentos de tensão, como é o caso do Hamas (grupo fundamentalista que sequer admite a existência do Estado de Israel) e do Likud (partido israelense de extrema-direita que sequer admite a possibilidade de um Estado Palestino).
A melhor solução para o conflito seria a constituição de um único estado laico, multi-racial e democrático em que convivessem árabes e israelenses, mas, para tal, é necessário o retorno dos refugiados palestinos. Mas neste caso, a vinda de 7 milhões de árabes para Israel modificaria a correlação populacional do país, fazendo com que os israelenses se tornassem minoritários.
Sendo assim, a proposta de Obama é razoável, pois concebe o estabelecimento de dois estados conforme a Resolução 242 de 1967 da ONU, permitindo a permuta de alguns territórios para adequar as situações já consolidadas. Não é a solução dos nossos sonhos, mas é preferível ter uma solução real que nos deixe mais perto do objetivo do que manter a situação insustentável como está. Os principais grupos palestinos (Fatah e Hamas) estão avaliando a proposta, mas infelizmente os fascistas do governo israelense dificilmente aceitarão. Veremos o quanto pesa a pressão de um presidente premiado com o Nobel da Paz.
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De São Paulo-SP.
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